domingo, 8 de março de 2015

Gibi como Arte! O Museu dos Gibis no Jornal o Fluminense!

O Gibi como arte




Por: Suzana Moura 08/03/2015

Ranieri de Andrade reúne cerca de 60 mil exemplares de HQs exclusivas, no Museu do Gibi, em Niterói

Quem disse que gibi é coisa de criança? Quem nunca se pegou folheando uma dessas revistinhas em quadrinhos despretensiosamente em uma banca de jornal ou no consultório do pediatra do seu filho e acabou se divertindo lendo? Adultos que têm hábito de ler gibis são mais comuns do que você possa achar. Muitos “grandinhos”, inclusive, tornam essa prática um vício e colecionam centenas deles. São muitas as opções, exemplares raros, outros caríssimos ou de valor sentimental.
Desde a criação da Academia Brasileira de História em Quadrinhos (Abrahq), com sede provisória em Botafogo, Zona Sul do Rio, cerca de 60 mil exemplares são armazenados em um museu virtual, o Museu do Gibi, em Niterói, cujos exemplares exclusivos estão em posse do gerente de controle de negócios e colecionador Ranieri de Andrade, de 50 anos,  um apaixonado por histórias em quadrinhos. Desde que sua família veio do Nordeste, na década de 1970, e se mudou para o estado do Espírito Santo, onde seu pai foi trabalhar, sua paixão por gibis teve início. Na rua onde foram morar havia uma banca de jornal, coisa que ele nunca tinha visto antes. 
“Aquilo me encantou. Me chamava atenção as capas das revistas. Daí em diante, comprava, lia e guardava. Toda vez que ocorriam mudanças devido ao trabalho de meu pai, eu levava as revistas encaixotadas com o maior cuidado”, conta o morador de Niterói, que admite ser um apegado a todas as suas revistas. Cada exemplar, segundo ele, tem a sua história, desde a aquisição até o histórico de cada um. Ranieri conta, ainda, que valoriza muito os autores e a história de criação dos personagens. Seu predileto é Ken Parker.
“Hoje o mais caro exemplar já negociado no Brasil foi o Gibi de São João. Na maioria das vezes, o preço prevalece em decorrência do estado de conservação do item, da falta dele na coleção do comprador, entre outros fatores”, explica Ranieri, que ressalta que o Gibi de São João tornou-se muito raro, além de ter sido editado em plena Segunda Guerra Mundial, quando já ocorria a escassez de papel. Diz a lenda que um dos maiores colecionadores de revistas em quadrinhos do Brasil,  Waldo Vieira, costumava comprar e rasgar exemplares para valorizá-los. 
Mas os colecionadores passam por momentos difíceis. Segundo Ranieri, hoje, as edições estão armazenadas em lugares seguros. Já ocorreram assaltos à casa de um colecionador em São Paulo onde parte de seu acervo foi levado por uma quadrilha especializada. Já foram roubados da Biblioteca Nacional os mais raros exemplares da revista  Tico-tico e até hoje só foram recuperados um dos exemplares.
Um espaço especializado - A Academia Brasileira de Histórias em Quadrinhos nasceu do desejo do ilustrador e desenhista do famoso personagem de HQ, Jerônimo, O Herói do Sertão, Edmundo Rodrigues, de criar um espaço para reunir relíquias. Meses antes de morrer, Edmundo chamou Agata Desmond, sua produtora por mais de cinco décadas, e pediu para que não deixasse a sua obra morrer. A marca HQ Forever e a  Abrahq surgiram para lembrar a importância de resgatar a história das HQs e dos artistas veteranos, chamados imortais.
De acordo com Agata, atualmente eles estão em busca de espaço, uma sede física,  para dar início aos projetos, oficinas para roteiro, desenhos e cartoon. No último dia 30 de janeiro, Agata inaugurou a Abrahq, empossando 20 artistas que passarão a ocupar cadeiras em homenagem a desenhistas já falecidos, entre eles o próprio Rodrigues.
O acervo da Academia conta com 60 mil gibis, hoje armazenados no virtual Museu do Gibi, em Niterói, sob os cuidados de Ranieri de Andrade. Inclui, também, doações dos hoje “imortais”, além dos trabalhos de Edmundo Rodrigues e do também mestre dos quadrinhos Flavio Colin. Grande parte desses desenhos ainda tem seus originais preservados em folhas no mínimo duas vezes maiores do que o A4. A coleção é repleta de raridades: O Tico-tico, tira nacional da década de 1940; João Charuto, do mesmo período; Irina, a bruxa, um clássico do gênero de terror em quadrinhos, criado por Rodrigues duas décadas depois; Jerônimo, o Herói do Sertão, de mesma autoria; até os primeiros exemplares de Popeye que desembarcaram no Brasil por volta de 1975.
Para não adiar ainda mais o sonho da fundação da Abrahq, Agata resolveu começar o projeto ainda que fosse em uma sede provisória, onde os artistas pudessem se encontrar mensalmente. Como ela mesma diz, eles estão em coworking, em um espaço em Botafogo, onde alugam para reuniões. 
“Seguimos em busca de um patrocínio ou de um apoio governamental. Continuamos trabalhando e, quando o fruto de todo esse trabalho acontecer, teremos um lugar definitivo”, antecipa Agata, que chama a atenção para o fato de que o espaço respeita a arte dos quadrinhos e dá a ela a devida importância.
“Era o sonho do Mestre Rodrigues e creio que também é o de muitos artistas, ver as histórias em quadrinhos serem respeitadas e os bons trabalhos repercutindo  e acontecendo, ao ponto do artista poder viver do próprio talento.  A mensagem que deixo é: Não olhe para a dificuldade, não pense nisso ou naquilo. Apenas faça, realize o seu sonho, seja ele qual for. Dê o primeiro passo e deixe que a vida se encaminhe do resto. Não tenha medo de realizar!”, aconselha.



4 comentários:

  1. Belo trabalho, Ranieri e Ágata. Deixo uma sugestão: montar um projeto via Catarse, com um "brinde" a cada participante de acordo com o valor doado. Seria uma pouco diferente dos projetos existentes lá, pois não teria um valor fixo final. Pensem à respeito. Inté !

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  2. Ótimo trabalho seu, amigo.Tambem como você, gosto e coleciono muitos gêneros, mas o meu preferido é Ken Parker.

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